“Ainda
não contei de você a ninguém. Acho meio arriscado ou, quem sabe, mera
superstição. Eu sei que as pessoas vão me pedir cuidado. Assim me guiei por uma
vida toda e foi exatamente isso que hoje me faz uma pessoa contando uma
história de amor sem nunca ter protagonizado uma. De um jeito ou de outro,
sempre soube que pegar leve era uma forma de me manter todas as minhas metades
comigo mesma, até então sem saber pra quê servia isso. Só pude ver o tamanho do
erro no seu sofá-cama, no meio de um beijo estranho. Você engolindo minhas
lágrimas bobas, lambendo minhas bochechas nos créditos de “Brilho Eterno de Uma
Mente Sem Lembranças”, que, aliás, a única coisa que entendi do filme é que o
amor é uma coisa bem complicada. Você tentou me explicar por partes, e eu me
senti menos burra e ridícula, embora com os olhos ainda aguados. Pega no meu
queixo e diz que não sou só eu que sinto medo aqui. Faça alguma coisa ruim,
qualquer coisa que me impeça imediatamente de sentir esse amor absurdo por
você. Estou nas suas mãos e isso não é uma metáfora. Porque eu já não sei mais
nada. Parece que sou mesmo seu foco de vida, mas também pode ser que você ande
apenas distraído do resto do mundo. Ou, vai que você tá mesmo certo, as coisas
são assim mesmo, o amor invade pela boca enquanto a gente se olha e fica
rindo.”
Gabito
Nunes
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